29.2.20

AINDA NÃO ACABOU III





29 fevereiro |AINDA NÃO ACABOU | Prolongar uma história, um livro. 

3.ª exercício O MESMO FINAL
Todos temos o mesmo fim. Escolhemos uma forma de acabar e escrevemos para trás. 

Final comum: 

O amor tinha por fim enontrado o seu caminho de flores e de lâminas. 



A história daqueles dois era difícil de contar, de explicar, de assimilar.
Conheceram-se no velório de uma tia, que ambos gostavam muito, de maneiras diferentes, mas em comum o grande afeto que a tia lhes deu. Nesse triste dia cruzaram olhares profundos, para nunca mais se separarem.
Apesar desse início tão infeliz, a história dos dois era bonita, consistente, credível.
Juntaram os seus trapos, subiram ao altar e tiveram um filho.
Tudo parecia encaminhado para aquela trajetória sem desvios, para um “viveram felizes para sempre”.
Mas
 - e há sempre este “mas” nas histórias mais belas -
o destino dos dois não seria juntos. Anos depois, veio-se a saber que um deles tinha cometido o homicídio que levara à morte daquela tia.
Ela ficou aterrorizada com quem tinha a seu lado e nem as flores a convenceram a perdoá-lo. Não havia volta a dar aquela história.
O amor tinha por fim encontrado o seu caminho de flores e de lâminas.
                                                                                                                       Mariana Matias 



Sabia que já nada havia a fazer. Restava-lhe apenas lamber as feridas e partir. Sairia dali com pouca bagagem: meia dúzia de livros de poemas, um disco da Kate Bush da sua coleção de clássicos e uma ou duas peças de roupa. Nada mais. Não deixaria marcas. Não haveria despedidas. Já tudo tinha sido dito, vivido e sentido. Já se tinham esgotado todas as mentiras, todas as razões, todas as dúvidas. Todos os gestos eram agora inúteis, todas as palavras eram já objetos cortantes. Olhou uma última vez para a casa em silêncio antes de sair: já não sentia a brisa fresca do Verão no rosto e o Amor tinha por fim encontrado o seu caminho de flores e de lâminas.
                                                                                                             Rute Gonçalves


Levantava os olhos do microscópio, reparava nela, debruçada sobre a ocular ao mesmo tempo que tirava notas no seu caderno de folhas lisas, sem sequer olhar para o papel. Com uma mão ia fazendo deslizar a lâmina, rodando as lentes e ajustando o foco, com a outra escrevendo e por vezes até desenhando esquemas das suas observações, completamente absorta no seu trabalho. Ele julgava que tinha uma paixão única, muito particular, antes de a conhecer. Sempre gostara de plantas e tinha-se preparado para as estudar toda a sua vida como se pudesse vir a compreender o seu mistério observando-as nos mais pequenos detalhes. Agora percebia que a sua paixão tinha encontrado rival à altura na compenetrada botanista com quem partilhava o laboratório. Sorriu; o amor tinha por fim encontrado o seu caminho entre flores e lâminas.
                                                                                                              Francisco Feio


Ela queimava-se a todo o instante, de calor. A lareira estava já em brasa,o azul flutuava. 

Pedia alimento. Pedia madeira,,pedia almofada, pedia solidão, pedia sossego, pedia silencio, Ela não lhe fez a vontade. Já era de manhã. O seu filho devia estar a chegar. Apenas um galho florido. A qualquer momento.
Havia pouco tempo se estreara até ás madrugadas. Hoje não há lamento, sento---me com ele e à falta de pai, vou-lhe conversar o quanto o amo e que este amor tinha por fim encontrado o caminho de flores e de laminas.
                                                                                                                      Joana Dinis





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