Italo Calvino
19 de setembro | LITERATURA POTENCIAL. Aniversário da
morte de Italo Calvino, escritas oulipianas
1 – Técnicas Oulipianas a partir de um texto baseado em textos
de Calvino
Texto base
Os clássicos são livros dos quais se costuma ouvir:
«Estou a reler» e nunca «Estou a ler». No entanto, toda releitura de um
clássico é uma leitura de descoberta, como a primeira. Aliás, toda primeira
leitura de um clássico é na realidade uma releitura. Um clássico é um livro que
nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. São livros que trazem
consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços
que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente
na linguagem ou nos costumes). É clássico aquilo que tende a relegar a
actualidades a ruído de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse
ruído de fundo.
...Clássico, seja...
Os ouvintes, oram, operam, olvidam o outro, o outrem.
Ouvindo o ontem ondulando outra, outra ouvida, orando onde oiçam oficialmente.
Ontem ouviu- se oiro
Ontem ouviste oiro
Ontem ouvi onde ouvir
Ontem ouvi como ouvir
Ontem, outrora o ocaso, outro olhar. Onde? Ontem.
Amanhã aprofundarei
Enquanto houver manhãs
Igrejas abertas sem cruz, sino só
Ouvirei sempre como novidade
Uivarei a essa Lua Nova que badalará de noite aquando do meu mergulho...
...Oceano...
L@dyBirdBel
TAUTOGRAMA em «o» e ACRÓSTICO com as vogais.
Clássicos são os lobisomens dos quais se costuma ouvir:
«Estou a remendar-te» e nunca «Estou a libertar-te».
No entanto, todo o remendado por um clássico faz uma
libertação de descoberta, como a primeira.
Aliás, toda a primeira visão de um clássico é um rebanho de
remendos.
Um clássico é um lobisomem que nunca terminou de dominar
aquilo que tinha para dominar.
São lobisomens que tricotam a marca dos lençóis em que nos
deitamos e, atrás de si, olvidam as tragédias que deixaram no cunhado ou nos
cunhados que atropelaram (ou então, deixaram marca, tão simplesmente, no linho
ou no cotão).
Pedro
Caeiro
TÉCNICA: S+6 E V+6 - substituir
cada substantivo e verbo de um texto pelo sexto que o sucede no dicionário.
Clássicos são
livros dos quais se costuma ouvir “estou a reler”
Ler uma só vez
não é suficiente
Aliás, a
releitura de um clássico é uma descoberta
Sempre fica a
sensação que foi uma primeira leitura
Sempre uma
primeira leitura é de facto uma releitura
Ironicamente
são livros que nunca mais acabam de dizer o que tem para dizer
Como se
trouxessem consigo as marcas das leituras que precederam a nossa
Onde se
vislumbram os traços que deixaram nas culturas que atravessaram
Sem prescindir
da actualidade, relegam-na para ruído de fundo
Helena
Campos
TÉCNICA:
ACRÓSTICO com a palavra «Clássicos»
Os livros são clássicos dos quais se costuma ouvir: «Estou a
reler» e nunca «Estou a ler». No entanto, todo clássico de uma releitura é uma descoberta
de leitura, como a primeira. Aliás, todo primeiro clássico de uma leitura é na releitura
uma realidade. Um livro é um clássico que nunca terminou de dizer aquilo que
tinha para dizer. São marcas que trazem consigo os livros dos traços que
precederam a nossa e atrás de si as leituras que deixaram nas culturas ou na cultura
que atravessaram (ou mais simplesmente nos costumes ou na linguagem). É actualidade
aquilo que tende a relegar o clássico a ruído de fundo, mas ao mesmo tempo não
pode prescindir desse ruído de fundo.
Paula
Carvalho
TÉCNICA: PERMUTAÇÃO - alterar
a ordem dos substantivos do seguinte modo: o primeiro pelo segundo e
vice-versa, o terceiro pelo quarto, etc.
Os clássicos são REUNIÕES
DE CADERNOS MANUSCRITOS OU IMPRESSOS
COSIDOS ORDENADAMENTE dos quais se costuma ouvir: «Estou a reler» e nunca
«Estou a ler». No entanto, todo ACTO DE
RELER um clássico é um ACTO DE LER de
INVENTO, como O QUE NUMA CLASSE OU SÉRIE ESTÁ EM PRIMEIRO LUGAR. Aliás, todO primeirO ACTO DE LER de um
clássico é na realidade um ACTO DE RELER.
Um clássico é umA REUNIÃO DE CADERNOS MANUSCRITOS OU IMPRESSOS COSIDOS ORDENADAMENTE que nunca
terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. São REUNIÕES DE CADERNOS
MANUSCRITOS OU IMPRESSOS COSIDOS ORDENADAMENTE que trazem consigo OS CUNHOS dOs ACTO DE RELER que
precederam O nossO e atrás de si os VESTÍGIOS que deixaram nO
ESTUDO ou nOS ESTUDOS que atravessaram (ou mais simplesmente na EXPRESSÃO DOS PENSAMENTOS OU SENTIMENTOS
POR PALAVRAS ou nos USOS). É
clássico aquilo que tende a relegar a OCASIÃO
PRESENTE a OSTENTAÇÃO de fundo,
mas ao mesmo tempo não pode prescindir dessa OSTENTAÇÃO de fundo.
Paula
Carvalho
TÉCNICA: DEFINIÇÕES - Substituir
cada termo (substantivo, adjectivo, verbo, advérbio) pela sua definição de
dicionário. Pode fazer-se escolhendo apenas um dos termos (só os substantivos,
só os adjectivos, etc.)
2 – Redefinições para as Seis Propostas Para o Próximo
Milénio de Italo Calvino
Leveza: airosamente, nuvem, voadora, algodão, pairar,
bailar, esperteza
Rapidez: estrada, morte, vida, alegria, motor, barulho,
explosão
Exactidão: ferozmente, facto, verdade, real,
prontidão, escrita, tranquilidade
Visibilidade: mar, terra, binóculos, guerra,
importância, família, ilha
Multiplicidade: cidadania, respeito, interrogação
liberdade, parafuso, cultura, camaradagem
Consistência: ferro, fogo, navio, avião, avô, laço,
puré
Pedro Caeiro, L@dyBirdBeL
Deus livre a Literatura da exactidão
Para isso bastam as ciências exactas
Toda a arte é multiplicidade e leveza
Toda a arte torna presentes os invisíveis evidentes de que é
feita a alma
Helena Campos
O livro tem de estar bem escrito, com muitas metáforas, tem de
permitir visualizar o que se está a ler, tem de fazer sentir bem. E também um
pouco de poesia, é libertador, não enfadonho. Também gosto da consistência, uma
coerência no argumento, nas personagens, detalhes que não se perdem.
Leveza – fluidez, elegância narrativa, pormenores,
picaresco, pictórico. As histórias-mosaico ou dimensionais com várias
personagens a contar a mesma história na sua perspectiva (exemplos: Amor & Cia, Julian
Barnes Quarteto de Alexandria, Lawrence Durrell).
Consistência – fio condutor excepção: o surrealismo
Paula Carvalho