19.9.20

Escrita Oulipianas


                     Italo Calvino

19 de setembro | LITERATURA POTENCIAL. Aniversário da morte de Italo Calvino, escritas oulipianas


1 – Técnicas Oulipianas a partir de um texto baseado em textos de Calvino


Texto base
Os clássicos são livros dos quais se costuma ouvir: «Estou a reler» e nunca «Estou a ler». No entanto, toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta, como a primeira. Aliás, toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura. Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. São livros que trazem consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes). É clássico aquilo que tende a relegar a actualidades a ruído de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse ruído de fundo.
 


 
...Clássico, seja...

Os ouvintes, oram, operam, olvidam o outro, o outrem.
Ouvindo o ontem ondulando outra, outra ouvida, orando onde oiçam oficialmente.
Ontem ouviu- se oiro
Ontem ouviste oiro
Ontem ouvi onde ouvir
Ontem ouvi como ouvir
Ontem, outrora o ocaso, outro olhar.  Onde? Ontem.

Amanhã aprofundarei
Enquanto houver manhãs
Igrejas abertas sem cruz, sino só
Ouvirei sempre como novidade 
Uivarei a essa Lua Nova que badalará de noite aquando do meu mergulho...
...Oceano...
L@dyBirdBel
TAUTOGRAMA em «o» e ACRÓSTICO com as vogais.


Clássicos são os lobisomens dos quais se costuma ouvir: «Estou a remendar-te» e nunca «Estou a libertar-te».
No entanto, todo o remendado por um clássico faz uma libertação de descoberta, como a primeira.
Aliás, toda a primeira visão de um clássico é um rebanho de remendos.
Um clássico é um lobisomem que nunca terminou de dominar aquilo que tinha para dominar.
São lobisomens que tricotam a marca dos lençóis em que nos deitamos e, atrás de si, olvidam as tragédias que deixaram no cunhado ou nos cunhados que atropelaram (ou então, deixaram marca, tão simplesmente, no linho ou no cotão).
Pedro Caeiro
TÉCNICA: S+6 E V+6 - substituir cada substantivo e verbo de um texto pelo sexto que o sucede no dicionário. ​
 
Clássicos são livros dos quais se costuma ouvir “estou a reler”
Ler uma só vez não é suficiente
Aliás, a releitura de um clássico é uma descoberta
Sempre fica a sensação que foi uma primeira leitura
Sempre uma primeira leitura é de facto uma releitura
Ironicamente são livros que nunca mais acabam de dizer o que tem para dizer
Como se trouxessem consigo as marcas das leituras que precederam a nossa
Onde se vislumbram os traços que deixaram nas culturas que atravessaram
Sem prescindir da actualidade, relegam-na para ruído de fundo
Helena Campos
TÉCNICA: ACRÓSTICO com a palavra «Clássicos»


Os livros são clássicos dos quais se costuma ouvir: «Estou a reler» e nunca «Estou a ler». No entanto, todo clássico de uma releitura é uma descoberta de leitura, como a primeira. Aliás, todo primeiro clássico de uma leitura é na releitura uma realidade. Um livro é um clássico que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. São marcas que trazem consigo os livros dos traços que precederam a nossa e atrás de si as leituras que deixaram nas culturas ou na cultura que atravessaram (ou mais simplesmente nos costumes ou na linguagem). É actualidade aquilo que tende a relegar o clássico a ruído de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse ruído de fundo.
Paula Carvalho
TÉCNICA: PERMUTAÇÃO - alterar a ordem dos substantivos do seguinte modo: o primeiro pelo segundo e vice-versa, o terceiro pelo quarto, etc.
 
 
 
Os clássicos são REUNIÕES DE CADERNOS MANUSCRITOS OU IMPRESSOS COSIDOS ORDENADAMENTE dos quais se costuma ouvir: «Estou a reler» e nunca «Estou a ler». No entanto, todo ACTO DE RELER um clássico é um ACTO DE LER de INVENTO, como O QUE NUMA CLASSE OU SÉRIE ESTÁ EM PRIMEIRO LUGAR. Aliás, todO primeirO ACTO DE LER de um clássico é na realidade um ACTO DE RELER. Um clássico é umA REUNIÃO DE CADERNOS MANUSCRITOS OU IMPRESSOS COSIDOS ORDENADAMENTE que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer. São REUNIÕES DE CADERNOS MANUSCRITOS OU IMPRESSOS COSIDOS ORDENADAMENTE que trazem consigo OS CUNHOS dOs ACTO DE RELER que precederam O nossO e atrás de si os VESTÍGIOS que deixaram nO ESTUDO ou nOS ESTUDOS que atravessaram (ou mais simplesmente na EXPRESSÃO DOS PENSAMENTOS OU SENTIMENTOS POR PALAVRAS ou nos USOS). É clássico aquilo que tende a relegar a OCASIÃO PRESENTE a OSTENTAÇÃO de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir dessa OSTENTAÇÃO de fundo.
Paula Carvalho
TÉCNICA: DEFINIÇÕES - Substituir cada termo (substantivo, adjectivo, verbo, advérbio) pela sua definição de dicionário. Pode fazer-se escolhendo apenas um dos termos (só os substantivos, só os adjectivos, etc.)
 

 
2 – Redefinições para as Seis Propostas Para o Próximo Milénio de Italo Calvino
 
Leveza: airosamente, nuvem, voadora, algodão, pairar, bailar, esperteza
Rapidez: estrada, morte, vida, alegria, motor, barulho, explosão
Exactidão: ferozmente, facto, verdade, real, prontidão, escrita, tranquilidade
Visibilidade: mar, terra, binóculos, guerra, importância, família, ilha
Multiplicidade: cidadania, respeito, interrogação liberdade, parafuso, cultura, camaradagem
Consistência: ferro, fogo, navio, avião, avô, laço, puré
                            Pedro Caeiro, L@dyBirdBeL
 
 
Deus livre a Literatura da exactidão
Para isso bastam as ciências exactas
Toda a arte é multiplicidade e leveza
Toda a arte torna presentes os invisíveis evidentes de que é feita a alma
           Helena Campos


O livro tem de estar bem escrito, com muitas metáforas, tem de permitir visualizar o que se está a ler, tem de fazer sentir bem. E também um pouco de poesia, é libertador, não enfadonho. Também gosto da consistência, uma coerência no argumento, nas personagens, detalhes que não se perdem.
Leveza – fluidez, elegância narrativa, pormenores, picaresco, pictórico. As histórias-mosaico ou dimensionais com várias personagens a contar a mesma história na sua perspectiva (exemplos: Amor & Cia, Julian Barnes Quarteto de Alexandria, Lawrence Durrell).
Consistência – fio condutor excepção: o surrealismo
           Paula Carvalho
 


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