29.2.20

AINDA NÃO ACABOU I


29 fevereiro |AINDA NÃO ACABOU | Prolongar uma história, um livro. 

Exercício: fazer fins

COLECÇÃO DE FINS

E se começássemos pelo fim?
Finais supreeendentes, finais felizes, finais abertos, finais poéticos. Uma colecão a continuar, aqui alguns, à disposição de quem com eles quiser fechar uma história.



Então, depois de tantas lágrimas derramadas, percebe que o seu futuro seria longe dali, numa cidade qualquer distante.



Apesar de tudo, a minha alma estava agora mais leve e podia caminhar para onde sempre quis: a liberdade.
                                                                                                Mariana Matias


O telemóvel tocou.
Era o último toque.
Já não aguentava mais e a bateria estava fraca. Só ouviu: detesto-te.

Ela acabou por lhe trazer a camisola, a azul, onde ele se demorava com os olhos.
Surpresa.
Gostou. Era o que ele queria. Era o que ela queria.

Queimo-me a todo o instante. Acendo a lareira e o gosto do fogo embebeda-me.
Acabo aqui, e assim, o meu serão.

- Por isso e porque já são horas de ir andando, põe a trabalhar a montanha russa, o comboio e a roda gigante. Deixa o portão aberto e se te perguntarem, não sabes de nada!
                                                                                                                Joana Dinis



Morreu no dia 22 de Fevereiro, não tendo sido revelada a causa. As más línguas disseram que tinha mordido a sua.
Paula Carvalho


Apesar de tudo, a minha alma estava agora mais leve e podia caminhar para onde sempre quisera: a liberdade.

O dia amanheceu limpo e as andorinhas cantavam melodicamente. A Primavera chegara.
Mariana Matias


Pousou o livro de Kadaré e dispôs-se a reservar um bilhete baratuxo para a Albânia com alojamento num bunker, vista para o mar e um mini-mercado em frente. Era o seu sonho albanês. 

A projectada viagem a Marte ficara gorada. Apeser da agressiva campanha de marketing, não havia sustentáculo real para alimentasse. Um grande embuste. 
Lídia Lopes


Só o mar ficou, testemunha silenciosa do fim de um tempo. 

E é vê-los às voltas, como peões desatinados, cada um no seu mundo feito de impossíveis. 
Helena Campos


Tinha chegado o momdnto de partir, de deixar aquele espaço que tinha sido a sua primeira casa. Olhou em vlta, ia sentir saudades. Custou-lhe a saída, lenta e dolorosa. Esta muita luz lá fora. Sentiu o ar a entrar nos pulmões e berrou com força. «É um rapaz», alguem disse.

Então, depois de tantas lágrimas derramadas, percebeu que o seu futuro seria longe dali, numa qualquer cidade distante. 

Não sabia para onde ia, mas nunca mais voltaria aquele lugar. 

Abraçaram-se uma última vez e adormeceram.

E ficou a ver a esfera azul que tinha sido a sua casa a ficar cada vez mais pequena. 

A corrida tinha sido em vão. Ofegante sentou-se na borda do passeio e com as mãos a tapar os ouvidos chorou primeiro e riu depois. 
Francisco Feio


O amor tinha por fim encontrado o seu caminho de flores e de lâminas.

E enquanto ohava a chuva que caía intensamente lá fora, sorriu com a certeza de que a partir daquele momento nada seria como dantes.

Ao entrar naquela nave metálica de luzes brilhantes, soube que iria começar a maior aventura da sua vida.

Descia agora a rua com alegria com orgulho no seu feito, com o cabelo desgrelhado e a boca a saber a pastilha elástica de mentol.

Fechou os olhos cansados e lacrimejantes e gritou a plenos pulmões: Obrigada!
Rute Gonçalves


O avião partiu e Jorge ficou a pensar nas belas amizades que nunca têm início. 

Nada fazia prever aquele desfecho. Suspirou e continuou a cavar. 

Quem diria, a sua vizinha, sempre tão conservadora e formal. Carlos reflectiu e disse alto:
- Nunca conhemos verdadeiramente ninguém. 

Acabada a conversa, talvez a mais importante da sua vida, sentiu-se leve e finalmente percebeu.

Olhou para as cerejeiras. Os primeiros bagos começavam a despontar. Pensou que isso devia significar alguma coisa. 
Cristina Borges









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