Sessão: 12 de outubro
TEMA: MAIS POR MENOS
Contar muito com poucas
palavras. Histórias até 100 palavras.
Parte I - Do texto ao micro-texto
O processo: história em 20 m. baseada numa frase de Pérez-Reverte de que uma das participantes se lembrou, «A solidão do ovo estrelado». Depois cada texto rodou e cada participante cortou. No final, surgiu um texto «cortado», e portanto escrito, por todos.
texto 1 - original
texto 2 - aparado
texto 1 - original
Ouviu a frigideira a assentar no fogão, o gás a assobiar, o
lume a acender, o azeite a cair no metal e o silêncio da espera que o calor aquecesse
o conjunto. Sabia o que o esperava; já o tinha visto acontecer muitas vezes aos
outros e não tinha razões para pensar que agora seria diferente. Ouviu o azeite
a crepitar, sentiu-se a levantar no ar, olhou uma vez mais em volta para ver se
teria companhia. Nada; apenas a superfície da frigideira. Sentiu uma pancada de
lado, a casca a abrir e ele a escorregar para o calor. Ali estava ele, na
solidão a frigideira, sem ao menos uma salsicha por companhia. Era um destino
cruel. Ao menos que fizessem bom proveito.
texto 2 - aparado
Ouviu a frigideira a assentar, o gás a assobiar, o lume a
acender e o azeite a cair. Não tinha razões para pensar que agora seria
diferente. Ouviu o azeite a crepitar, sentiu-se levantar no ar, um apancada de
lado, a casca a abrir e deixou-se escorregar para o calor, na solidão da
frigideira, sem ao menos uma salsicha por companhia. Era um destino cruel. Ao
menos que tivessem bom proveito.
Francisco Feio
texto 1 - original
A minha mãe estava na cozinha.
Deduzi que ia fazer o almoço.
“Mãe o que é o almoço?” –
Perguntei, já com uma certa fome.
“São ovos estrelados” –
respondeu-me ela com algum enfado – ela sabia que eu não apreciava ovos.
Passados uns minutos, chamou-me
à cozinha: “Rapariga, fica aqui a tomar conta do ovo a fritar, enquanto eu vou
fazer um telefonema” – E eu fui.
Enquanto tomava conta do ovo, e
me assegurava que não ficava esturricado, deixei cair o garfo para o chão. Baixei-me
para o apanhar e quando me levantei, o ovo não estava na frigideira. Olhei para
cima, olhei para o lado, vi atrás do fogão. Nada… o ovo tinha misteriosamente
desaparecido.
A minha mãe nunca percebeu esta
história e nunca acreditou em mim…
O acontecimento ficou para
sempre entre nós conhecido como o mistério da solidão do ovo estrelado.
texto 2 - aparado
“Mãe o que é o almoço?”
“São ovos estrelados” –
respondeu-me ela.
Entretanto, chamou-me à
cozinha: “Rapariga, fica aqui a tomar conta do ovo, enquanto eu faço um
telefonema”.
Enquanto cumpria esta tarefa,
deixei cair o garfo. Baixei-me para o apanhar e quando me levantei, o ovo não
estava na frigideira. Olhei para cima e para o lado, vi atrás do fogão. Nada… o
ovo tinha desaparecido.
A minha mãe nunca percebeu esta
história e nem acreditou em mim…
O acontecimento ficou para
sempre conhecido como o mistério da solidão do ovo estrelado.
Rute Gonçalves
texto 2 - original
Ai o ovo, ai o ovo, ai o ovo..
Tão sozinho ele se sente…
Tão sozinho praticamente
demente…
Ai o ovo, ai o ovo, ai o ovo
tão doente.
Ainda cru, a mãe galinha
olhava-o e pensava este pobre coitado ainda não percebeu que se queixa sem
razão…
Olha, olha, olha, olha lá vem
ela lá vem a mão lá vai ele para a frigideira.
Agora sim sozinho ele vai
ficar.
Eis a solidão do ovo estrelado…
A meio rachado, frigideira a
escaldar no azeite para o fritar, só a ele para ficar como o céu: estrelado
Ai o ovo, ai o ovo ai o ovo… Tão
sozinho ele se sente...tão sozinho quase demente...ai o ovo, ai o ovo tão
doente… a mãe galinha passava por ele e pensava: Este sortudo queixa-se,
queixa-se e não sonha a boa vida que tem: sozinho sem ninguém a massacrá-lo,
sem ninguém ali a pisá-lo…
Joana Dinis
texto 3 - original
A frigideira chiava no
fogareiro, as salsichas foram atiradas com desprezo, depois estalou-se um ovo.
Laura odiava o parque de campismo e ainda mais os tios, oleosos e gordos. Devia
odiar também os pais, que a despachavam para ali todos os Verões, mas não. Os
pais tinham um Jaguar e os tios tinham um Escort. Nisto tudo pensava Laura
enquanto molhava a salsicha no ovo e os tios estrebuchavam ao lado.
texto 3 - aparado
A frigideira chiava no
fogareiro. Estalou-se um ovo.
Laura odiava o parque de
campismo, os tios e os pais que a despachavam para li todos os Verões. Era
nisso que pensava enquanto molhava a salsinha no ovo e os tios agonizavam ao
lado.
Cristina Borges
Cristina Borges
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