Sessão: 26 Outubro
TEMA: PIRATARIA´
Intertexto, pastiche,
homenagens. Escrever a partir dos textos de outros.
Parte II: Plágio
Na segunda parte da sessão, a proposta foi escrever um texto com o título «O Plágio»
Kalypso
Baudrillard dizia que na era do ciberespaço tudo é cópia;
não há originais. É como um jogo de espelhos em que tudo se reflete até ao
infinito.
Quando acordou naquela manhã, Kalypso pensou estar nas cenas
finais da Dama de Xangai. Para qualquer lado que se virasse, era a ela que via,
de pé, a olhar para si própria. O pesadelo adensou-se na rua. Todas as pessoas
com que se cruzava eram ela. Numa cidade como a sua, existiam agora 12 milhões
de ela própria. Teve uma tontura profunda e colapsou com este pensamento. Numa
cidade desta dimensão, nunca se fez tamanho silêncio.
Francisco Feio
O nosso Amor é como um plágio:
O que eu sinto és tu que dizes,
O que eu digo és tu que constróis.
E nunca tem fim esta imitação: há sempre um caminho que nos encontra antes de nos perdermos na noite.
O nosso tempo é como um espelho:
O teu reflexo imitando a vida
E as minhas mãos sempre frias, cortadas pelo vidro.
É certo que no fim deste dia de Outubro
Não sei quem plagia quem: se eu a ti, se tu a mim
Ou se o Amor a nós os dois.
Rute Gonçalves
Vitória e Joana desceram a Avenida Casal Ribeiro, na direção
da Estefânia, em busca da paragem do autocarro 767 que levaria a primeira até
ao Campo Grande.
Joana comentava o filme que tinham visto no
Monumental: As Pontes de Madison County.
— Tu viste aquela ponte de madeira, Vitória? Muito gira! E
os atores vão tão bem. Que história emocionante! — E, de voz embargada, desatou
a soluçar compulsivamente, até à chegada do transporte da amiga.
Vitória, sempre serena, não emitiu palavra nem fez qualquer
gesto em direção da afligida. Limitou-se a percorrer o rebordo do passeio,
imitando os passos de passerelle dados por Meryl Streep, à
beira da ponte, numa cena do filme.
Joana não teve outro remédio senão sofrer sozinha a sua dor
inconfessada. Não deixou, porém, de recordar, de um flash, como a mesma
Vitória, dias após terem ido ao cinema ver o filme A Casa da Rússia,
exibira exatamente o mesmo penteado que Michelle Pfeiffer. Dois plágios
perfeitos.
Lídia Vieira
Eu não plagio, apenas parto de um autor e chego a outro, como bóias no mar revolto dos pensamentos, mar que chega à praia surfando nas ideias e morre na areia compondo um crochet de palavras.
Helena Campos
Sentia uma febre do tamanho de
quatro homens encapuzados. Já não suportava o contacto do veludo à volta do
pescoço - era tecido ou era pele? Ela voltou com a garrafa de champanhe e o colar
de pérolas de fogo que não ardiam.
- Toma mais – disse, como se
oferecesse um pouco da sua dor.
Todos os dias declarava a
guerra, todos os dias perdia a guerra. Tomou mais um pouco do veneno e voltou a
cair no abismo.
Cristina Borges
Cristina Borges
(imagem: unsplash.com)
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